domingo, maio 17, 2009

Uma sujeirinha que incomoda

Achar que o local em que estamos não diz respeito a nós é praticamente um sentimento comum a todo e qualquer ser humano. Talvez o problema esteja em acreditar, com todas as forças, que está tudo bem e que não poderia estar melhor. Porém, é necessário saber balancear essas "crises" para que não exista depressão profunda e nem conformismo debilitante.
É sufocante ver pessoas queridas convictas de que não pertencem ao local em que estão e, ao qual, querendo ou não, você pertence também. Será que deveria sentir o mesmo e querer ir para outro lugar o mais rápido possível? Será que incomodo por não ter vivido experiências fora de minha terra natal? Afinal de contas, o máximo que fiz, foi ir até a Disney com apenas 11 anos de idade. Mal conhecia a história do mundo, mal sabia o que ele reservava para mim (ainda não sei, e isso incomoda, e muito), não compreendia (compreendo) minha mera existência.
Agora me sufoco por não conseguir participar de conversas sobre outras culturas as quais conheceram, por não poder sair daqui nesse exato momento e colher histórias em outros lugares e poder contá-las animadamente para cada interessado, por me ater profundamente aos estudos desde meus 10 anos de idade, por meus pais não terem condições de enviar a filha para outro país (nunca os culpei por nada disso. Cada um possui e faz suas condições e experiências acontecerem). Ninguém tem culpa de nada, só eu.
Eu que quis juntar dinheiro para fazer cursinho, para fazer cursos de línguas, para participar da formatura, para comprar livros e roupas, para tentar me inserir naquilo a que me propus e alçar a meta estabelecida por mim mesma: ter uma profissão e fazer com que meus pais não vivam tão apertados.
Viagens? Não pensei nisso a sério ainda! A meta é visitar a Europa no final de 2010. SOZINHA! Forçar-me a me virar, a dar a cara a tapa, a deixar de ser covarde, a não depender dos outros e esperar a boa vontade deles. Aprender a ser Paula, simplesmente Paula. Não uma pessoa que cria personagens em cada lugar em que passa. Por mais autentica que seja, finjo bem, muito bem. Consigo sorrir quando queria xingar...
Esse texto, que se tornou um desabafo, era para ser uma discussão sobre sensação de mal estar constante. Bem... É assim que me sinto! E é necessário distanciamento para uma análise eficaz, como aprendi na faculdade.

Boa noite

OBS: Post escrito ao som de Maysa.

Um comentário:

Flavio Moreira disse...

Paula:

Nem mesmo você tem culpa. Aliás, a idéia de culpa (um fardo trazido da formação cristã a que estamos obrigados desde que os ensinamentos de Cristo passaram pelas interpretações interesseiras de 'autoridades' que se arrogaram o direito de intermediar a relação com o Divino), pode acabar com os sonhos e desejos de qualquer um. Não há utilidade em mergulhar no exercício inútil de tentar saber como teria sido SE você tivesse dinheiro, SE seus pais tivessem outra condição (financeira, social, cultural etc.), SE...

O que importa é que você provavelmente só é o que você é por causa das condições em que vem crescendo e se tornando pessoa. Não, não dá para compreender nossa própria existência - pelo menos não de uma forma que se possa dizer definitiva e satisfatória (acho que aí não teria sentido continuar existindo). O que nos move é a busca, a necessidade de saber. A ignorânica pode ser uma bênção, mas ela está reservada àqueles que foram alijados da capacidade de sonhar e de abstrair (e consequentemente de viver - sobrevivem de seus pequenos afazeres cotidianos).
Você está aprendendo. O quê, só você sabe. Não acredito no caminho das respostas fáceis e psicologizantes, por isso, não ensaiarei qualquer uma que valha menção. Mas posso, matreiramente, dar-lhe uma dica:

"A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo." ('Demian', de Herman Hesse). Recomendo a leitura desse livro. Acho que vai abrir seus olhos a muitas coisas, não externas, mas internas.

"Se apredendesse qualquer coisa, necessitaria aprender mais, e nunca ficaria satisfeito." (Fabiano, em 'Vidas Secas', de Gracialiano Ramos.

Não, acho que você está mais para Sinclair do que para Fabiano.

Ainda assim, compreendo suas angústias; já tive minha cota de similares. Durante muito tempo, e ainda hoje, vejo que de fato, "conheço quase o mundo inteiro / por catão postal / eu sei de quase tudo um pouco / e quase tudo mal" (Kid Abelha, não lembro o nome da música). Imagine como se sente alguém que se percebe como cidadão do mundo mas que sofre para conseguir amealhar o suado dinheiro para as necessidades básicas da sobrevivência. Aí está o quadro. Mas o bom é que você pode estar certa de que não está sozinha. O que nos irmana é o sonho, o rompimento diário com mundos fechados e pré-concebidos de quem nos nega a possibilidade de mudança. Enquanto pudermos sonhar e ardentemente procurar a realização dos sonhos, ninguém pode destruir nossa liberdade.

Faça bom uso de suas asas.